segunda-feira, março 07, 2016

DÁ-ME UM ABRAÇO...

Somos todos carentes de amor! No mundo dos afetos há palavras que nos curam, olhares que nos abrem ao infinito, abraços que nos levantam e reconstroem. Tal como na música, também aqui o silêncio não é ‘ausência’, mas sim o espaço que medeia o encontro entre o coração e a inteligência, entre o discernimento e a ação, entre o pensamento e a palavra. É bom lembrar ainda que na vida de todos os dias há muitas ‘sinfonias’ escritas com um silêncio contemplativo e adorador...são aqueles momentos em que o céu nos visita num encontro, num aperto de mão, num abraço que nos ‘desbloqueou’ o coração e a vida.

É também nesta sintonia e sinfonia de afeto que nos cruzamos com a sublime página do Evangelho de Lucas (Lc 15, 1-32) onde um Pai pródigo de Amor e misericórdia espera sempre o regresso do seu filho ‘mendigo’ de afeto e de reconciliação. É uma metáfora da nossa vida interior! Afastar-se do coração do Pai é desfigurar a nossa identidade. Já não nos sentimos filhos, apenas ‘mendigos’ de pão para a boca...quando o que nos falta afinal é afeto que cure e perdão que ofereça recomeço. Por entre idas e vindas, facilmente esquecemos que autonomia não é anarquia e liberdade não significa agir sem pensar ou decidir sem rezar.

O Pai não nos quer famintos, mas saciados; não nos quer dobrados sobre o peso dos nossos erros ou pecados, mas peregrinos curados pela ternura da sua infinita misericórdia; jamais nos olha de cima para baixo e sempre nos convida a levantar para o alto e para longe os nossos olhos e os nossos corações. É que Deus não nos sonhou pequenos, mas eternos! Na mesa da vida há sempre um prato que nos espera, há um Pai-inquieto que nunca deixa de acreditar no nosso regresso, um pai que não dorme e corre para a porta de cada vez que houve o rumor de passos...esperando que seja aquela ‘a hora derradeira’ em que vai poder abraçar de dignidade e perdão o ‘mendigo’ que não se acha mais filho.

A caminho da Páscoa, e quando a natureza se veste já com os primeiros perfumes da primavera, é bom não esquecermos que “quando a Igreja escuta, cura, reconcilia, torna-se no que ela é, no que ela tem de mais luminoso: uma comunhão de amor, de compaixão, de consolação; o límpido reflexo de Cristo Ressuscitado. Nunca distante, nunca na defensiva, livre de severidades, ela pode irradiar a confiança humilde da fé nos corações humanos” (Ir. Roger de Taizé).

E é assim, por entre a memória e o afeto, por entre exigência e ternura, que vamos ‘degustando’ cada recomeço, oferecendo e recebendo Páscoa de cada vez que ousamos dizer: “DÁ-ME UM ABRAÇO...”. BOA SEMANA! ;)



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