terça-feira, novembro 08, 2016

VIDA (E)TERNA...


“Quanta Ressurreição habita os teus gestos cotidianos?”. É com esta provocação que nos deixamos encontrar pela Palavra desta semana (Lc 20, 27-38). No caminho para Jerusalém, metáfora dos nossos caminhos diários, Jesus deixa-se questionar por aqueles que negavam a ressurreição. É assim o nosso Deus, um Deus que não teme as nossas perguntas, um Deus que não ignora os nossos questionamentos, um Deus que pacientemente se deixa ‘pôr em causa’ pelas nossas dúvidas, pelas nossas ‘incredulidades’. O Deus de Jesus Cristo não nos dá respostas a la carte, acolhe as nossas fragilidades e aceita fazer caminho nelas. Não nos responde o óbvio e estimula-nos a contemplar para além do banal.

A grande provocação de Jesus ao responder aos questionadores do caminho, e a nós também, parece ser a de nos confrontar com as nossas escolhas, os nossos olhares, o ‘peso’ que levam as nossas palavras, a intensidade dos nossos encontros, os nossos projetos, e nos devolver a questão: tudo isso que fazes no teu dia a dia está ‘grávido’ de vida (e)terna?

Não se trata de olhar a vida como um caminho que lá no final se encontra com o céu, trata-se sim de perceber que cada passo do caminho ou vai cheio dele...ou vai cheio de nada! Se as nossas escolhas são cheias de céu, se de cada vez que nos cruzarmos uns com os outros aprendemos a olhar-nos mais olhos nos olhos do que olhar para o chão ou para o lado, então é aos poucos que vamos morrendo para a indiferença, a superficialidade, o banal e é assim que se vai enraizando em nós esse jeito novo de ser de Deus e de ser com Ele...pois pelo caminho vamos semeando e fazendo germinar o grande sonho que ele mesmo plantou no mais íntimo do nosso coração e que Agostinho cantou assim: “Tu nos criaste para Ti, Senhor, e nosso coração anda inquieto enquanto não repousa em Ti”.

Ressuscitar é dizer ao(s) outro(s), diariamente e para além dos nossos preconceitos, “Tu continuas a existir dentro de mim!”. É aprender a olhar o horizonte quando o sol vem beijando a terra e, com a determinação de um primeiro passo, (re)iniciar a peregrinação de atravessar a noite com a doce luz da esperança no coração e nos lábios; é entusiasmar-se, como as crianças, com as coisas simples e belas da vida, tão simples e belas como um abraço demorado, um olhar pacificador, o calor de um ‘obrigado’ ou a carícia de um ‘estou aqui!’...Ressuscitar é não deixar que os sonhos morram sufocados, é viver com ousadia sabendo que em cada limite há uma possibilidade e é saber também que nenhum pecado pode mais que a misericórdia, pois o perdão que o abraça sabe fazer de cada queda um recomeço...

Como um dia escreveu tão belamente escreveu Frei Prudente Nery: “Quando chega o inverno, sem que ninguém os instrua, os pássaros erguem-se espontaneamente aos céus em incrível aventura. Conduzidos por um misterioso legado de sua espécie, seguindo apenas os pulsos magnéticos da terra, eles voam, pelas trilhas do sol, milhares de quilômetros, noite e dia, à busca apenas de permanecer na vida. Assim há de ser também conosco, quando, no crepúsculo de todos os outonos, cair sobre nós o frio do inverno. Carregados, então, pelo fascinante destino de nossa espécie, nós voaremos, seguindo apenas os acenos da eternidade, rumo à morada da luz, o coração de Deus. E aí saberemos o que, agora, apenas intuímos e, ouvindo Jesus Cristo, o Caminho, a Verdade, a Vida, cremos: Não existem dois reinos, o reino dos mortos e o reino dos vivos, o reino da terra e o reino dos céus, mas apenas o Reino de Deus, que quis que fôssemos eternos”. BOA SEMANA!

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