Eis
a pergunta que nos pode acompanhar essa semana! Não te apresses em responder...
saboreia a interrogação como um convite a fazer uma ‘peregrinação interior’.
O
“vinde e vede” (Jo 1, 35-42) com que João nos colocou olhos-nos-olhos com
Jesus, tem agora um capítulo novo e decisivo. Não há discipulado sem intimidade, mas também
não há seguimento de Jesus sem conversão. Discipulado e conversão são gêmeos!
Duas faces de uma mesma moeda: seguir Jesus, ser como Ele foi, fazer como Ele
fez!
É
comum escutarmos em discurso religioso (com frequência quase infinita!) a
palavra ‘conversão’, em muitos casos, ela tornou-se um jargão/refúgio de ‘disparo
automático’. Importa esclarecer que ‘conversão’ não é uma ‘conversa grande’,
muito menos algo ‘obscurantista’ do tipo ‘refúgio impermeável para preguiçosos’.
A conversão dá trabalho! Ela nasce de uma urgência: “seguir Jesus de modo que o
seu Evangelho seja guia concreta da vida; significa deixar que Deus nos
transforme, parar de pensar que somos nós os únicos construtores da nossa
existência; significa reconhecer que somos criaturas, que dependemos de Deus,
do seu amor” (Bento XVI).
Há
uma 'urgência do coração' que define prioridades! Naquele “Cumpriu-se o tempo e
está próximo o Reino de Deus” (Mc 1, 14-20), o Evangelho introduz-nos num tempo
e numa realidade nova. Deus convoca-nos para realizarmos, como dizia um grande
pedagogo, os 'inéditos possíveis'. Pede-nos que façamos com Cristo o percurso
das periferias (Galileia) para o centro (Jerusalém). Não se trata apenas de um
itinerário geográfico, nem de meras referências ‘religiosas’, trata-se de um
caminho de purificação da vida e da fé. Chegou a hora de abandonar todas as
idolatrias (e são sempre tantas dentro de nós!). O ‘Deus Vivo’ pede-nos a
coragem da humildade, a determinação do coração, a intimidade que transforma e a
profundidade que renova.
A
conversão nasce das ‘raízes do coração’. Quando Jesus nos interpela o coração e
a vida, e nos recorda que se ‘cumpriu o tempo’, não está com isto a amedrontar-nos,
ameaçar-nos ou a dizer-nos que agora tudo tem de ser feito à pressa... Está,
isso sim, a fazer ressoar no nosso coração aquela ‘memória’ que nos desperta e recorda
que somos nutridos por um amor infinito que nos levanta, acaricia e estimula a
fazer caminho. Enquanto caminhava entre nós, recordava-nos o Ir. Roger de
Taizé:
“Se
soubesse que Deus vem sempre ter contigo...O mais importante é descobrir que
Ele te ama, mesmo quando tu pensas que não O amas. Cristo espera ser acolhido por cada um de nós. Se tu não consegues dar-Lhe uma
resposta, Ele respeita o teu silêncio. Mas quando te abres e O acolhes, por ação
do Espírito Santo, cria dentro de ti uma comunhão íntima com Ele. Na surpresa dessa comunhão, Ele habita no mais fundo da tua alma. A sua
presença é tão clara como a tua própria existência. Tens dúvidas? Escavam-se em
ti como que buracos de incredulidade? Contudo, permaneces na fidelidade. A
dúvida, por vezes, é apenas o outro lado da fé. Na invisibilidade da Sua
presença, o Ressuscitado poderia dizer-te: “sei que há dias cinzentos e opacos
na tua vida. Conheço as tuas dificuldades e a tua pobreza, mas apesar disso és
abençoado, habitado por fontes vivas, fontes de fé escondidas no mais profundo
de ti mesmo. A surpresa da presença de Jesus, o Ressuscitado, cria em ti uma
morada de luz. Ela ilumina mesmo quando tudo parece envolto em obscuridade e
brilha como brasas debaixo da cinza. Por vezes perguntas-te a ti mesmo: o fogo que há em mim vai apagar-se? Não
foste tu que o acendeste. Não é a tua fé que cria Deus, não são as tuas dúvidas
que O vão lançar para o nada. Lembra-te: o simples desejo de Deus é já o começo
da fé. Quando te abres à vida eterna, a confiança da fé começa e não tem mais
fim...”. Boa Semana!
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