segunda-feira, fevereiro 05, 2018

A 'BOA NOTÍCIA'...


De quantas rugas é feita a tua história? Parece despropositada a pergunta. Para alguns será ‘deselegante’ e ofensiva, mas gostaria de começar por aqui esta semana!

Habitamos um tempo marcado por grande arrogância e violência. Ser vulnerável é ‘coisa de fracos’. Os afetos são facilmente mascarados (e manipulados!), as ‘etiquetas’ que colocamos nos outros  são uma ‘auto-defesa infantil’ de quem não é capaz de, com adultez e sabedoria, lidar com os próprios limites. E, pensar diferente, é hoje uma ‘ousadia quase pornográfica’...é paradoxal mas, quanto mais ‘democráticos’ dizemos ser, quer como pessoas, igreja ou sociedade, mais intolerantes nos manifestamos em nossas atitudes, palavras e gestos. Não se trata de um ‘diagnóstico pessimista’, até porque sou 'evangelicamente otimista' por natureza. Gosto de escutar e de contemplar as pessoas, e vou-me dando conta do quanto temos afetivamente regredido, humanamente decrescido e espiritualmente adoecido...voltemos à pergunta: "de quantas rugas é feita a tua história?"

Vem tudo isto a propósito da Palavra com que Deus nos visita esta semana (Mc 1, 29-39). Jesus continua itinerante (peregrino!) e revela-nos que uma ‘Igreja em saída’ implica também ‘sair da igreja’, pois nenhum muro pode deter a graça de Deus que é sempre ‘sedutoramente irradiante’, é que “a casa de Deus é um abrigo, não uma prisão” (Papa Francisco).  Jesus sai dos ‘limites religiosos’ e inicia uma ‘peregrinação da ternura’ que rompe preconceitos e derruba os muros da indiferença. Para seguir Jesus é preciso ‘não ter fronteiras’! Por onde passa, Ele se faz próximo, toca e ‘levanta’. 3 verbos essenciais para fazer irromper o Evangelho nos corações e na vida.

O ‘Mestre dos recomeços’, ensina-nos que segui-lO não implica um ‘intimismo de fuga’ nem, no extremo oposto, um apelo a sermos ‘tarefeiros do evangelho’. Na hora da ‘saída’, Jesus é claro: precisamos ser ‘porta escancarada’ para quem chega, sem qualquer tipo de blindagem ou subterfúgio (espiritual!). Precisamos cuidar e deixar-nos cuidar. Precisamos de silêncio e de palavras. Precisamos escutar, mas também responder. Precisamos rezar para saber discernir. Precisamos agir para não atrofiar o amor. Precisamos avançar...para ir ao encontro!

Sair, não ter fronteiras, tocar e curar. É neste ‘cenário’ que Cristo nos coloca e questiona. Diante da ‘síndrome da vida perfeita’, o Evangelho ‘devolve-nos’, como um espelho, as nossas dores e as nossas ‘rugas’ e leva-nos a descobrir, cada vez mais, que elas são fruto do afeto e da memória, do tempo compartilhado e da vida entregue. Sem pressas.

‘Sair’, não nos levará muito longe, talvez nos leve somente ‘até à Porta’... aí, no sabor e no saber de cada dia, descobriremos tantos e tantas, de ‘coração faminto de esperança’. Vão pedir-nos abrigo e ‘o pão dos afetos’. Nessa hora, tocaremos suas feridas, dançaremos juntos e, olhando-nos longamente nos olhos, ofereceremos uns aos outros os ‘sulcos’ que o tempo escavou em nossos rostos. Então, de mãos dadas, iremos sussurrar mutuamente essa entrega dizendo: 

Toma as minhas rugas, a minha história, o meu afeto, 
o meu tempo, a minha vida. Sem pressas”. 





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