Todos
conhecemos a frase: “a pior prisão é um coração fechado”. Sabemos também das
consequências devastadoras que a indiferença ou a absurda teimosia provocam em
nós e ao nosso redor. Costumo chamar a isso a ‘perseverança do absurdo’.
Lembrei-me imediatamente disso ao escutar o Evangelho este Domingo...Jesus é
questionado como um ‘fora da lei’ por aqueles que vivem na ‘perseverança do
absurdo’.
Há
‘perseverança (farisaica) no absurdo’ todas as vezes em que medimos a vida,
apenas, pelos tons pálidos do ‘pode’ ou do ‘não pode’ (Mc 2, 23 – 3, 6). São
fronteiras demasiado estreitas para quem se encontrou com o Evangelho e se
reconhece como discípulo de Jesus. O Mestre, recorda-nos isso insistentemente
quando nos desafia a converter o coração (e a vida); é bom entender que esta
insistência do Mestre não é um apelo à ‘maquilhagem espiritual’, ela será sempre
o primeiro passo para o absurdo. Jesus não nos pede apenas ‘a lei’, pede-nos mais,
mais profundamente, de um jeito novo...sem querer ‘domesticar’ Deus, nem
ludibriar a vida.
O
Papa Francisco, recordando-nos que é possível ser santo hoje, diz-nos: “Precisamos
do impulso do Espírito para não ser paralisados pelo medo e o calculismo, para
não nos habituarmos a caminhar só dentro de confins seguros. Lembremo-nos
disto: o que fica fechado acaba cheirando a mofo e criando um ambiente
doentio. (...) Deus é sempre novidade, que nos impele a partir sem cessar
e a mover-nos para ir mais além do conhecido, rumo às periferias e aos confins.
Leva-nos aonde se encontra a humanidade mais ferida e aonde os seres humanos,
sob a aparência da superficialidade e do conformismo, continuam à procura de
resposta para a questão do sentido da vida. Deus não tem medo! Não tem medo!
Ultrapassa sempre os nossos esquemas e não Lhe metem medo as periferias. Ele
próprio Se fez periferia. Por isso, se ousarmos ir às periferias, lá O
encontraremos: Ele já estará lá. Jesus antecipa-Se-nos no coração daquele
irmão, na sua carne ferida, na sua vida oprimida, na sua alma sombria. Ele já
está lá.” (GE nº 133-135)
O
Evangelho, luz para os nossos passos, questiona-nos: Quais são, afinal, as tuas fronteiras? De quantos ‘absurdos’ é feito
o teu quotidiano? Consegues contemplar a vida (e Deus!) para além dos teus ‘confins
seguros’?...
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Jesus, é dizer não à idolatria de um ‘deus-domesticado’, a idolatria de um ‘deus’
que corresponda, somente, às nossas medidas curtas e aos nossos corações
fechados...num deus assim, seria impossível acreditar!
Jesus, Amor-Crucificado-Ressuscitado,
revela-nos que ‘o essencial da lei’ está, primeiramente, em ‘tatuar’ no mais profundo do nosso
ser a certeza que o profeta Isaías cantou, tão belamente, com estas palavras: “Deus
é o meu Salvador, tenho confiança e nada temo. O Senhor é a minha
força e o meu louvor, Ele é a minha salvação. Agradecei ao Senhor, bendizei
o seu nome. Anunciai aos povos a grandeza das suas obras, proclamai a
todos que o seu nome é santo. Cantai ao Senhor, porque Ele fez
maravilhas, anunciai-as em toda a terra. Entoai cânticos de alegria e
exultai” (Isaías 12).
Aos que têm esta certeza ancorada no mais intimo do
coração, Jesus e o Seu Evangelho, serão sempre uma vida, e um Deus,...‘fora da
lei’! BOA SEMANA.
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