sábado, junho 03, 2006

A (des)propósito?!...



Está aí celebração do Pentecostes!
De entre as muitas coisas que tenho reflectido e rezado, e diante da “confusão” que ultimamente se pretende gerar na inteligência e no coração dos cristãos, a propósito da deturpação de alguns aspectos da vida de Jesus e da vida da Igreja, chego à conclusão que, no meio de tudo isto, o Espírito Santo tem sido muito mal tratado!

Muitos (até crentes mais “esclarecidos”) continuam a confundir o Espírito Vivificador com poder, com domínio. Outros há que O confundem com uma “energia positiva” que nos impele para o futuro e que nos faz (aparentemente) mais felizes. Não posso aqui esquecer os que, numa atitude mais “piegas”, quase querem obrigar o Espírito Santo a ser o salvador da sua incompetência e preguiça em aprofundar a fé. Por isso, tudo o que deviam fazer ou dizer e não fizeram ou disseram é interpretado, na sua lógica pseudo-profética, como um sinal de que o Espírito de Deus não quer “isto” ou “aquilo”. Há outros ainda, e não são assim tão poucos, que dispensam o Espírito Santo pois são possuidores de “tão grandes capacidades” que, se o Espírito do Ressuscitado se manifestasse, poderia ocultar o que eles são e valem…quem anda por estes caminhos anda enganado e anda a enganar-nos!
Provavelmente quem optou por ler as constatações que ficam ditas atrás pode perguntar-se: “mas a que propósito são feitas tais constatações?”. Para alguns elas podem ser apenas a expressão do “despropósito” de um cristão que é padre e que provavelmente estaria mal disposto no dia em que escreveu isto, ou, por outro lado, de um pessimista pronto a lançar um “anatema sit” aos homens e mulheres deste tempo. Quem assim pensar estará enganado.
Para mim a constatação de tudo isto constitui uma provocação a pensar e a repensar a forma como em Igreja estamos a anunciar, viver e celebrar a nossa fé. Significa assumirmos um dinamismo mais de escuta e acolhimento, de Deus e dos homens e mulheres com quem partilhamos o nosso quotidiano, do que de condenação ou de preconceito. Significa entendermos que uma fé sem compromisso eclesial não é fé. Significa que temos de assumir corajosa e definitivamente um compromisso de formar na fé com solidez, profundidade, audácia e alegria aqueles que baptizamos, para não corrermos o risco de termos comunidades construídas com base numa “fé débil”, que se assustam sempre com aqueles que gritam mais alto, e que não têem argumentos e seriedade nas propostas que apresentam.
Para que isto aconteça, precisamos de nos calar mais para melhor ouvirmos a voz de Deus, a voz do Espírito Santo. Precisamos de deixar que seja o Espírito Consolador a marcar o nosso ritmo enquanto Igreja, comunidades e crentes. Precisamos de acolher com mais alegria e mais esperança o Espírito da Verdade e da Vida que Deus uma vez mais nos quer conceder. Precisamos tão simplesmente de deixarmos que o Espírito de Cristo seja o protagonista nas nossas palavras, nos nossos gestos,… Só assim a nossa vida, a nossa Igreja, as nossas comunidades serão mais proféticas, mais testemunho, mais dom de Deus.
Que a confusão não nos “confunda”, nem nos iluda.
Não vale a pena o caminho da superficialidade, de nada valem as nossas correrias, os nossos muitos projectos e sonhos, se não nascerem no cenáculo, na intimidade de um coração e inteligência humilde e simples que se deixam comover e “desconcertar” pelo mistério amoroso deste Deus Trindade que se manifestou plenamente em Jesus Cristo, e que nos continua a amar e animar pelo Espírito Santo, o Senhor que dá a verdadeira Vida.
De nada nos adiantará pedir “Vem Espírito Santo…” se não estivermos dispostos a correr estes riscos. É isto que peço e rezo neste Pentecostes.

1 comentário:

Living Place disse...

Nada mais tenho a acrescentar, a não ser: Fiquei mais desperta. Obrigado.