quarta-feira, fevereiro 13, 2013

O tempo do “coração a caminho”...



Há rotinas que nos matam e há outras (muitas!) que nos trazem a Vida.
Na hora de partir há que fazer escolhas. Eu já fiz as minhas. Partilho-as contigo.

 Da cabeça aos pés…

Nenhum caminho pode começar sem determinação! O primeiro passo é decisivo para marcar ritmo, definir prioridades, consolidar opções. Por entre o silêncio e as palavras, o desafio primeiro é o de ser viandante, peregrino com a luz do Absoluto a iluminar cada passo. Fazer caminho não significa percorrer mil estradas ou todas as encruzilhadas do mundo. Esta é uma outra viagem, mais lenta, com uma densidade e exigência maior. Feita de despojamento, de muito diálogo (interior!)…é um caminho feito com os pés descalços e com uma inteligência que se coloca em peregrinação ao ver brilhar na noite as primeiras estrelas…

Com os pés se caminha, pisando a terra sagrada que é a história, a nossa história pessoal, a minha, a tua…Com os pés desnudados, e com passo firme, a vida deixa de ser a errância das rotinas cinzentas, dos tons amargos e pessimistas, de um desfiar de dias que se sucedem ser trazer novidade. Caminha-se para a “terra da liberdade”, é um êxodo para saborear a promessa que se faz pátria, a Aliança que se faz Encontro…

Com a cabeça levantada, mas sem altivez, podes contemplar desde o início o horizonte que te chama e que te espera. Na fronte o “sinal” da cinza, recordação da tua vulnerabilidade que precisa de ser abraçada pela ternura do perdão. Recordação também de que as perguntas que trazes dentro não te pedem “resposta de cartola” mas são convite a aprofundar as razões da tua esperança, do teu querer e do teu crer…

Qual a firmeza dos teus passos? Que perguntas trazes dentro?

…de todo o coração

Porque és um corpo, lugar de encontro, mistério e templo, o coração é central nesta viagem da cabeça aos pés. Se a cruz te assinala a fronte na hora da partida, será o amor que se ajoelhará diante de ti para te lavar os pés na hora da chegada.

Quando o Mestre se sentar contigo, na Páscoa, à mesa que te faz irmão, não precisas de formalidade, muito menos de medo…basta-te a certeza de teres caminhado na Sua graça cantando em cada passo uma existência que venceu a indiferença.

A Quaresma é o tempo do “coração a caminho”, é tempo já da ‘memória pascal’. É revisitar no tempo a história concreta tecida nos encontros quotidianos, nos laços construídos ou quebrados, nas mãos estendidas e abertas para acolher ou nos braços cruzados da acomodação de quem não quis fazer acontecer a “sinfonia” do encontro fraterno, do amor gratuito, da vida partilhada e celebrada como dom. É tempo para reconstruir com a determinação da ternura e a força libertadora do perdão a “identidade nova” do peregrino que se descobre como “discípulo-apóstolo” em cada recomeço…

Vais deixar nesta quaresma que a determinação da ternura e a força libertadora do perdão te rasguem ‘portas novas’ no teu coração?


Com o ‘perfume’ da Páscoa…

A Quaresma deixa de ser rotina quando o nosso coração vive habitado pela Páscoa! E é para a Páscoa que estamos a caminhar. O ritmo dos nossos passos, o bater do coração, a vivacidade da nossa inteligência são convocados para trabalhar em uníssono. São desafiados, na ‘polifonia do quotidiano’, a reescrever a nossa história com todas as cores do universo.

Partimos com a cinza pois é possível recomeçar!
Somos assinalados com a cinza pois é ela que, na noite gélida do inverno, mantem acesas e quentes as brasas do lume que se quer novo para dar luz e fogo à humanidade.

E quando um ‘fogo novo’ desperta e se torna luz e calor para todos, então é no aconchego do lar que se redescobre a família, que se cria espaço para os amigos, que o Mistério habita cada instante e que a vida, perfumada e agradecida, se torna epifania de Deus, Ressurreição.
  

É sempre tempo de recomeçar!
desperta em nós ‘o novo’ que sonhaste
e faz-nos amar em cada instante
cada passo e cada gesto,
o silêncio e a Palavra,
para que em nós desponte
o "perfume novo" da Páscoa.

Boa Quaresma, Bom Caminho!

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