segunda-feira, novembro 04, 2013

A ‘MATEMÁTICA’ DE ZAQUEU E O ‘GPS’ DE DEUS …



Há 2 dias, no telejornal, falavam das dificuldades a nível familiar com a ‘nova matemática’ que hoje é ensinada nas escolas. Vem isto a propósito de Zaqueu, o ‘homem de pequena estatura’ de que nos fala o Evangelho (Lc 19, 1-10). É um homem de bolsos grandes e de coração pequeno, é um homem ‘mirrado’ porque é um saqueador da dignidade dos outros. É rosto de um sistema que oprime, que amordaça os mais débeis, que obedece a uma lógica onde o ‘humano’ e o ‘dom’ não têm vez nem voz.



A matemática de Zaqueu obedece a uma lógica muito semelhante à que vivemos hoje: num ambiente dominado pela ‘lógica de mercado’, as pessoas são ‘números’ que se podem ‘manipular’ ou ‘ignorar’, consoante o que é mais conveniente, ou, para agravar esta ‘lógica da indiferença’, elas são consideradas apenas como uma percentagem (a dos desempregados, por exemplo) que é preciso ‘diminuir’ mas que em cada dia se vê aumentar!



É com esta lógica matemática, que lhe faz ‘mirrar’ o coração e que lhe estreita os horizontes de vida, que Zaqueu se torna um errante. Anda à procura, de Deus e de si …é um ‘peregrino sem rosto’ e ‘sem alcance’ no meio de uma multidão que não lhe abre espaço para olhar mais longe e ver mais profundamente. Às vezes também nós caminhamos ‘sem lógica’, sem rumo,…com os nossos bolsos cheios de passado mas com um coração que teima em não se abrir ao futuro. Esta ‘matemática de Zaqueu’ é tantas vezes a nossa…Ele não sabe partilhar, não se deixa ajudar, vive em fuga, numa ‘ilha de solidão’ onde parece não mais haver porta para se entrar e lugar à mesa para dialogar.



Mas às contas de Zaqueu, à sua ‘matemática quotidiana’, cheia de rotinas que não se abrem ao infinito, faltava um ‘olhar novo’, ampliador de horizontes, transformador de corações. É o olhar de Jesus! É nele que nos devemos concentrar. Jesus vai a caminho, é a última etapa do percurso iniciado em Lucas 9,51-62. O encontro olhos-nos-olhos, a conversa com Zaqueu, não é um ‘acidente’ de percurso! Jesus anda à ‘procura do que estava perdido’, o ‘GPS’ divino anda a ‘reconfigurar’ os caminhos da humanidade, anda a ‘ampliar’ os horizontes, obrigando-nos também a ‘desenhar com as cores do amor’ novos mapas para o encontro, para a partilha, para o perdão…enfim, um desafio constante à nossa capacidade de ser, de dar e de gerar afecto. Sem colocar etiquetas, sem trancar portas.



E é à mesa, lugar da memória e da hospitalidade do coração, que a ‘matemática’ de Zaqueu se ‘converte’ e que ele percebe, finalmente, porque é que o ‘GPS’ divino não podia ‘mudar o rumo’ quando o que era preciso era ‘mudar o coração’.



A ‘nova matemática’ de Zaqueu («vou dar aos pobres metade dos meus bens e, se causei qualquer prejuízo a alguém, restituirei quatro vezes mais») traz-nos também ‘dificuldades’, habituados que estamos a uma ‘matemática do passado’ (somar para nós, subtraindo aos outros). Ainda por cima, não se aprende na escola mas à mesa! É feita de encontro, de escuta, com os pés na terra. Dá-nos um ‘mapa’ novos dos outros e de nós.



É verdade que é ‘debaixo para cima’ que olhamos o céu, mas não será olhando ‘de cima para baixo’, empoleirados nas árvores do nosso egoísmo e indiferença, que poderemos encher de futuro e de eterno cada gesto, cada palavra, cada passo, cada caminho… somente olhos-nos-olhos (com Deus e com os outros). Para isso é preciso abrir a porta…e deixar que o Outro se sente à nossa mesa.



Sem comentários: