sexta-feira, novembro 01, 2013

SANTIDADE...um convite à transgressão?!



«Os Santos,
Nascidos do amor à Vida,
viveram um amor nunca acabado
…fiéis até à morte ao Amor-Crucificado».



A santidade é um caminho feito de quotidiano, não se improvisa, nasce da fidelidade gerada e desejada em todos os dias. Nasce de um coração que se alegra por semear eternidade em cada acontecimento e em cada pessoa. Nasce da fé, do encontro com o Deus-Amor que nos habita e nos ‘habilita’ a sermos “santos como Ele é Santo”.

A santidade é, para tantos, ‘inconveniente’, dado que é uma provocação a não nos acomodarmos. Ela é 'perigosa' por causa do bem que faz despontar, pela gratuidade que semeia, pela sabedoria com que ensina a viver, isto é, pelo 'discernimento' que ajuda a ler a vida com Esperança e a projectá-la com Fidelidade. É ‘perigosa’ também pela 'sabedoria do coração' que suscita e que faz olhar a vida como uma constante 'peregrinação'...é por isso que a Santidade nunca é light... Ela desinstala-nos...sempre!

«Os pobres em espírito, os humildes, os que choram, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os que promovem a paz, os que sofrem perseguição por amor da justiça» de que nos fala o Evangelho (Mt 5, 1-12) não são uma espécie de ‘super-homens’ ou ‘super-mulheres’ de um passado lá longe, também não são ‘extraterrestre… os Santos são sempre ‘intraterrestres’! Vivem o Evangelho com os pés na terra! Eles, vivendo no coração do mundo, comungaram dos mesmos sofrimentos, dúvidas, falhas e medos que nós experimentamos diariamente…mas decidiram quebrar a ‘solidão autonómica’ e abrir-se, como dizia S. Máximo, à Theo-nomia, isto è, àquela liberdade onde é Deus quem dá ritmo, saber e sabor ao caminho de cada dia. É por isto, e por muito mais, que a santidade é sempre um convite à transgressão. Ela é desafio permanente, como o ressoar de um campanário, a superar ‘medidas curtas’, a olhar a realidade como dom e a vivê-la no ‘excesso do dom’.

A santidade nunca se contenta com um cumprimento ‘escrupuloso’ da lei, supera sempre todo e qualquer legalismo, pois o seu centro é a ‘lógica do dom’. É também por isto que a santidade não se coaduna, nunca, com maiorias ou consensos alargados (como agora é moda dizer-se na política!). A santidade é sempre livre para obedecer e humilde para discordar. É profecia de comunhão e adversária da solidão. É escola de servos e nunca promotora de vaidade.

A santidade não se incensa nem se lamenta, não ataca nem defende, mas Escuta, Dialoga e Entusiasma! É que a Santidade é o respirar da vida a plenos pulmões, ou seja, é aquela sintonia e sinfonia de uma vida que se torna, cada vez mais, ‘a casa do Amor’. A santidade é, então, a Páscoa feita quotidiano!

A santidade não é uma conquista pessoal mas desafio/chamamento à perseverança e à confiança filial, porque os santos são os que não desistem de recomeçar, são os que vivem ancorados na misericórdia infinita de Deus. São aqueles que aprenderam a dizer a Deus, com a vida, “seja FESTA a Tua vontade!” (Don Tonino Bello). São os que descobriram a sua condição de Filhos (1 Jo 3, 1-3), não como uma ‘ideia’ ou uma ‘boa intenção futura’, mas na carne, no coração e na inteligência, no quotidiano…os santos são os que se colocam a caminho, com determinação, sem medo e sem reservas, de coração aberto…como aquela multidão incontável (Apoc. 7, 2-4.9-14), que vinda da grande tribulação, se encontra agora com o Cordeiro para se deixar conduzir por Ele.

Celebramos hoje a solenidade de “todos os santos”, isto é, a certeza que nos vem da fé de que entre o tempo e a eternidade não há descontinuidade mas uma comunhão de vida, de vida (e)terna, uma vida que se faz cântico permanente à Santidade de Deus.

Celebramos a multidão de homens e mulheres que deram ‘carne’, rosto e voz ao Evangelho. Alguns são da nossa família, nossos amigos e conhecidos.

Celebramos a alegria da fé e a certeza de que não caminhamos sozinhos. Somos da Família de Deus. Somos A Família de Deus, Templo de Deus, chamados a viver de olhos abertos e coração disponível o Evangelho.

E para que possamos ser mais santos e mais irmãos, para que possamos alegrar-nos e exultar, viver e partilhar a verdade com “esta geração dos que procuram o Senhor” (Salmo 24) peçamos-Lhe com fé:

Queremos ser Santos, Senhor,
queremos recomeçar,
com um coração novo e disponível,
aberto à Tua Palavra e comprometido com os irmãos.

Dá-nos, Senhor, um coração simples para Te contemplar,
um coração generoso para Te acolher,
um coração sábio para Te procurar em todas as situações.

Livra-nos, Senhor, do medo e da acomodação,
Livra-nos do conformismo de quem acha que ‘já não vale a pena’.
Dá-nos um coração entusiasmado,
cheio de alegria em procurar-Te,
com a ternura de um coração materno
com o entusiasmo de uma criança,
com a sabedoria dos idosos,
com a audácia dos jovens,
com a determinação dos mártires,
com a fidelidade dos santos.
Dá-nos, Senhor,
Um coração que sabe esperar…
…um coração que sabe esperar-Te.

É por tudo isto, então, que a santidade é SEMPRE um convite à transgressão…pois cada baptizado, mesmo não sendo um ‘fora-da-lei’, é sempre aquele que vai (e se dá) para além dela. Boa Festa…Todo(s) Santo(s), é o que te desejo!


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