«Os
Santos,
Nascidos do amor à
Vida,
viveram um amor nunca
acabado
…fiéis até à morte ao
Amor-Crucificado».
A santidade é um
caminho feito de quotidiano, não se improvisa, nasce da
fidelidade gerada e desejada em todos os dias. Nasce de um coração que se
alegra por semear eternidade em cada acontecimento e em cada pessoa. Nasce da
fé, do encontro com o Deus-Amor que nos habita e nos ‘habilita’ a sermos
“santos como Ele é Santo”.
A santidade é, para tantos, ‘inconveniente’, dado
que é uma
provocação a não nos acomodarmos. Ela é 'perigosa' por causa do bem que faz despontar, pela
gratuidade que semeia, pela sabedoria com que ensina a viver, isto é, pelo
'discernimento' que ajuda a ler a vida com Esperança e a projectá-la com
Fidelidade. É ‘perigosa’ também pela 'sabedoria do coração' que suscita e que
faz olhar a vida como uma constante 'peregrinação'...é por isso que a Santidade nunca
é light... Ela desinstala-nos...sempre!
«Os pobres em espírito, os humildes, os que
choram, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de
coração, os que promovem a paz, os que sofrem perseguição por amor da justiça»
de que nos fala o Evangelho (Mt 5, 1-12) não são uma espécie de ‘super-homens’
ou ‘super-mulheres’ de um passado lá longe, também não são ‘extraterrestre… os Santos são sempre ‘intraterrestres’! Vivem o Evangelho com
os pés na terra! Eles, vivendo no coração do mundo, comungaram dos mesmos
sofrimentos, dúvidas, falhas e medos que nós experimentamos diariamente…mas
decidiram quebrar a ‘solidão autonómica’
e abrir-se, como dizia S. Máximo, à Theo-nomia,
isto è, àquela liberdade onde é Deus quem dá ritmo, saber e sabor ao caminho de
cada dia. É por isto, e por muito mais, que a santidade é sempre um convite à transgressão. Ela é desafio
permanente, como o ressoar de um campanário, a superar ‘medidas curtas’, a
olhar a realidade como dom e a vivê-la no ‘excesso do dom’.
A santidade nunca se contenta com um cumprimento ‘escrupuloso’
da lei, supera sempre todo e qualquer legalismo, pois o seu centro é a ‘lógica
do dom’. É também por isto que a santidade não se coaduna, nunca, com maiorias
ou consensos alargados (como agora é moda dizer-se na política!). A santidade é
sempre livre para obedecer e humilde para discordar. É profecia de comunhão e adversária da solidão. É escola de servos e nunca promotora de vaidade.
A santidade não se incensa nem se lamenta, não ataca
nem defende, mas Escuta, Dialoga e Entusiasma! É que a
Santidade é o respirar da vida a plenos pulmões, ou seja, é aquela sintonia e sinfonia de uma vida que se torna, cada vez mais, ‘a casa do Amor’.
A santidade é, então, a Páscoa feita quotidiano!
A santidade não é uma conquista pessoal mas desafio/chamamento
à perseverança e à confiança filial, porque os santos são os que não desistem de recomeçar, são os que
vivem ancorados na misericórdia infinita de Deus. São aqueles que aprenderam a
dizer a Deus, com a vida, “seja FESTA a Tua vontade!” (Don Tonino Bello). São
os que descobriram a sua condição de Filhos (1 Jo 3, 1-3), não como uma ‘ideia’ ou uma ‘boa
intenção futura’, mas na carne, no coração e na inteligência, no quotidiano…os
santos são os que se colocam a caminho, com determinação, sem medo e sem
reservas, de coração aberto…como aquela multidão incontável (Apoc. 7, 2-4.9-14),
que vinda da grande tribulação, se encontra agora com o Cordeiro para se deixar
conduzir por Ele.
Celebramos hoje a
solenidade de “todos os santos”, isto é, a certeza que nos vem da fé de que
entre o tempo e a eternidade não há descontinuidade mas uma comunhão de vida,
de vida (e)terna, uma vida que se faz cântico permanente à Santidade de Deus.
Celebramos a
multidão de homens e mulheres que deram ‘carne’, rosto e voz ao Evangelho. Alguns
são da nossa família, nossos amigos e conhecidos.
Celebramos a
alegria da fé e a certeza de que não caminhamos sozinhos. Somos da Família de
Deus. Somos A Família de Deus, Templo de Deus, chamados a viver de olhos
abertos e coração disponível o Evangelho.
E para que possamos ser mais
santos e mais irmãos, para que possamos alegrar-nos e exultar, viver e partilhar
a verdade com “esta
geração dos que procuram o Senhor” (Salmo 24) peçamos-Lhe com fé:
Queremos ser Santos, Senhor,
queremos recomeçar,
com um coração novo e disponível,
aberto à Tua Palavra e comprometido com os irmãos.
Dá-nos, Senhor, um coração simples para Te contemplar,
um coração generoso para Te acolher,
um coração sábio para Te procurar em todas as
situações.
Livra-nos, Senhor, do medo e da acomodação,
Livra-nos do conformismo de quem acha que ‘já não vale
a pena’.
Dá-nos um coração entusiasmado,
cheio de alegria em procurar-Te,
com a ternura de um coração materno
com o entusiasmo de uma criança,
com a sabedoria dos idosos,
com a audácia dos jovens,
com a determinação dos mártires,
com a fidelidade dos santos.
Dá-nos, Senhor,
Um coração que sabe esperar…
…um coração que sabe esperar-Te.
É por tudo isto,
então, que a santidade é SEMPRE um convite à transgressão…pois cada baptizado, mesmo não sendo um ‘fora-da-lei’, é sempre aquele que vai (e
se dá) para além dela. Boa Festa…Todo(s)
Santo(s), é o que te desejo!
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