Era um dia como tantos outros, aquele dia, nas
margens do Rio Jordão. Não sabiam, os que ali se encontravam, que estava para
começar um ‘tempo novo’, desenhado com as carícias do Amor Eterno e ‘grávido’
de Salvação.
Podemos imaginar, com um coração habitado pela ‘memória
reconciliada’, o mundo de perguntas, projectos e sonhos que preenchiam no
coração daqueles que estavam na fila para ser baptizados por João…Quanto
caminho (interior) percorrido, quanto desejo convertido e pronto para ser ‘confirmado’
com a graça do (re)começo.
Também nós nos encontramos nessa fila de peregrinos
abraçados pelo desejo da conversão, habitados pelo sonho e dinamizados pela
memória. Também nós habitamos as margens deste “Jordão quotidiano” que é o
Encontro com o Evangelho, com Cristo, que agora caminha connosco. Também nós
assistimos, como os contemporâneos de Jesus, desconcertados com este
Deus-Peregrino que para superar as nossas ‘medidas curtas’ e dar eternidade ao
nosso agir se mete na fila sem ‘passar à frente’ e sem ‘atropelar o tempo’. É
verdade, a ‘delicadeza de Deus’ encanta-nos sempre e desconcerta-nos…Na Sua
pedagogia, Deus não acelera o ritmo, confere-lhe uma intensidade nova! Esse é o
‘segredo’ do Evangelho. Porque não nos quer ‘à margem’ do grande Rio da Vida e
porque não nos salva ‘por decreto’, Jesus não hesita em ‘comungar’ o que somos
e como estamos, para nos dar o que Ele é, para nos (re)fazer, a partir de
dentro, colocando no centro aquilo (e aqueles!) que não podem ser periferia.
É por tudo isto que o Céu se ‘rasga’ para sempre
(e Deus jamais se preocupará em consertar essa ‘brecha’!) de modo a fazer-nos
ouvir, em cada dia, em cada hora a única Palavra que pode reconstruir,
reintegrar, ressuscitar: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a
minha COMPLACÊNCIA» (cf. Mt 3, 13-17). Na fisiologia ‘complacência’ indica a capacidade de distensão de certas estruturas
elásticas como os vasos sanguíneos, o coração, pulmões, etc...e o Coração de
Deus alarga-se, e é sempre ‘maior’, de cada vez que um seu filho/a não hesita
em mergulhar neste grande Rio da Vida (E)terna que é o Seu amor por nós.
Jesus, com este ‘mergulho’ profundo nas águas
(tantas vezes paradas!) da nossa vida, vem dizer-nos que nos assume, por
inteiro, por dentro. Somos a sua história e Ele quer ser história de Salvação
connosco, para nós, em nós. E, para que não nos habite a indiferença, Isaías,
profeta da Esperança e da Consolação, sussurra-nos o ‘sonho de Deus’: «Fui Eu,
o Senhor, que te chamei…tomei-te pela mão, formei-te e fiz de ti a aliança do
povo e a luz das nações, para abrires os olhos aos cegos, tirares do cárcere os
prisioneiros e da prisão os que habitam nas trevas» (Is 42, 6-7).
Ser ‘baptizado’, ser ‘comungado’, é ser também ‘confirmado’
numa Esperança e numa Missão concreta, recorda-nos o Papa Francisco: «É graças
ao Baptismo que somos capazes de perdoar e amar também quem nos ofende e nos
faz mal; que conseguimos reconhecer nos últimos e nos pobres o rosto do Senhor
que nos visita e se faz próximo. O Baptismo ajuda-nos a reconhecer no rosto dos
necessitados, dos sofredores, também do nosso próximo, a face de Jesus».
Sendo assim…vais ‘mergulhar’ ou viver (somente) à superfície?
BOA SEMANA!
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