quinta-feira, junho 12, 2014

O AMOR É PACIENTE...MAS NÃO É INDOLENTE!


 



Diz um provérbio africano que “quando os ramos discutem, as raízes abraçam-se”. Uma excelente metáfora que nos permite revisitar o que é fundamental na escola existencial do Amor e da Ternura. 

Habitando uma cultura chamada por alguns de post-contemporânea, e por outros de post-cristã, diante de um certo pessimismo existencial, que nos faz ler, tantas vezes com ‘os óculos dos vizinhos’, este tempo que denominam de “Geração Y”, “modernidade líquida”, “analfabetismo emotivo”, etc. fomo-nos habituando a pensar o amor e a falar dele 'aquilo que ele não é'. 

Mas o amor não precisa só de ser pensado e falado, precisa de ser acolhido, vivido e celebrado. Um amor que não passa pela escola de ternura, que não se amadurece em diálogo com a fidelidade e que não cresce e se compromete com os ritmos da decisão, é sempre um amor ‘menor’, adolescente. E de quanta ‘adolescência’, e indolência, são feitos os nossos ‘amores quotidianos’!

Amar não é um sentimento, é uma decisão! Uma decisão que traz consigo o afecto que, como a filigrana, foi modelando pacientemente cada passo. Cada etapa. Cada compromisso. É nessa ‘determinada determinação’, como diria Teresa de Ávila, que o amor aprende em cada tempo o tempo de cada decisão. Não se apressa, nem se atrasa. É presença e consolação. É conversão e horizonte de Páscoa. Atravessa a noite, sabendo que nela Deus acendeu as estrelas para nos fazer chegar à aurora. E, como uma criança que espera sempre a novidade, deixa-se encantar com o milagre de cada amanhecer. Compromete-se com cada dia porque sabe que, para ser amor, tem de tocar a existência em todas as suas horas, beijar as suas feridas e acariciar as suas fragilidades, dado que ele é o único caminho que vence o medo. Só assim se percebe que o amor é paciente …mas não é indolente! (cf. 1Cor 13). É assim que também as 'raízes se abraçam' para que a paciência, ritmada pela fidelidade e criatividade, dê fruto a seu tempo.
 
Habitou, celebrou e cantou bem este ‘mistério’ KHALIL GIBRAN quando nos diz no seu “O Profeta”:

“Quando o amor vos chamar, segui-o, embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados; e quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe, embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos; e quando ele vos falar, acreditai nele, embora sua voz  possa despedaçar vossos sonhos como o vento devasta o jardim.Pois, da mesma forma que o amor vos coroa, assim ele vos crucifica. E da mesma forma que contribui para vosso crescimento, trabalha para vossa poda. E da mesma forma que alcança vossa altura e acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol, assim também desce até vossas raízes e as sacode no seu apego à terra. Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração. Ele vos debulha para expor vossa nudez. Ele vos peneira para libertar-vos das palhas. Ele vos mói até a extrema brancura. Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma no pão místico do banquete divino.Todas essas coisas, o amor operará em vós para que conheçais os segredos de vossos corações e, com esse conhecimento, vos convertais no pão místico do banquete divino.
Todavia, se no vosso amor, procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor, então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez e abandonásseis a eira do amor, para entrar num mundo sem estações, onde rireis, mas não todos os vossos risos, e chorareis, mas não todas as vossas lágrimas. O amor nada dá senão de si próprio e nada recebe senão de si próprio. O amor não possui, nem se deixa possuir. Pois o amor basta-se a si mesmo. Quando um de vós ama, que não diga: “Deus está no meu coração”, mas que diga antes: “Eu estou no coração de Deus”. E não imagineis que possais dirigir o curso do amor, pois o amor, se vos achar dignos, determinará ele próprio o vosso curso. O amor não tem outro desejo senão o de atingir a sua plenitude.
Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos, sejam estes os vossos desejos: de vos diluírdes no amor e serdes como um riacho que canta sua melodia para a noite; de conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada; de ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor e de sangrardes de boa vontade e com alegria; de acordardes na aurora com o coração alado e agradecerdes por um novo dia de amor; de descansardes ao meio-dia e meditardes sobre o êxtase do amor; de voltardes para casa à noite com gratidão; e de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado, e nos lábios uma canção de bem-aventurança».


1 comentário:

M Campos disse...

Parabéns pelo blog.