Os recentes acontecimentos no coração da Europa fizeram também com que o
nosso coração ficasse em sobressalto. Uma vez mais a humanidade se reencontra
com o agir desumano e com a blasfêmia que usa o nome de deus para destruir.
De imediato se reagiu e se decidiu que o ‘contra-ataque’ seria a melhor
resposta...não bastava já sermos derrotados pela crueldade do coração humano
que quer instrumentalizar deus, e temos agora os ‘deuses’ da humanidade a
garantir-nos que pela (in)segurança da guerra sairemos vencedores nesta batalha!
Pobres de nós que nos perdemos entre guerras sem sentido, guerras que fazemos
dentro e fora de nós e que apenas alimentam (e aumentam!) o ego... A nossa passividade
encontra habitualmente como única saída a(s) guerra(s) - dentro e fora de nós!
Para não reagir também eu ‘a quente’, em vez de colocar a bandeira francesa
no perfil do facebook, fui rezando (e repetindo) estes dias uma das bem-aventurança:
“bem-aventurados os fazedores da paz, porque serão chamados filhos de Deus”. Dei
por mim a pensar: de quantos fundamentalismos (religiosos) é feita a nossa vida
quotidiana?...às vezes são tantos! Logo a começar pelo modo como nos olhamos
uns aos outros na rua (o meu olhar é contemplativo ou acusador?), passando pelo
modo como nos cumprimentamos (o meu ‘bom dia’ é apenas um ato formal?), até ao
modo como nos tocamos/abraçamos (ofereço aconchego no meu abraço?), já para não
falar nas palavras que dizemos uns aos outros na família ou no
trabalho...afinal, tem dias em que podemos ser tão, ou mais, fundamentalistas
como aqueles que realizaram o massacre em Paris...e disso não nos damos conta,
nem protestamos, nem ‘bandeirizamos’ os nossos perfis!
Eu creio na não-violência como resposta de Paz aos fazedores da guerra.
Não é passividade. Muito menos resignação. É uma opção. Cheia de Evangelho! É por
isso que não tenho medo! Não tenho medo de confiar nas pessoas. Não tenho medo
dos islâmicos. Não tenho medo dos refugiados. Não tenho medo de Deus. Não tenho
medo de ser chamado filho de Deus! Digo-o para que não tenhamos, também nós,
medo de nos lembrar: do Darfur, do Sudão do Sul, das perseguições na Nigéria, das
vitimas de Minas gerais, dos muros fechados numa Europa ‘mãe da democracia’,
das redes de tráficos de pessoas, do trabalho escravo na China, na Índia e no
Bangladesh...e de todos os outros fundamentalismos (religiosos), que também nós
somos e vivemos todos os dias, e diante dos quais não nos indignamos.
A promessa do Evangelho que escutámos este Domingo: “Passará o Céu e a
Terra, mas as minhas palavras não passarão” (Mc 13, 24-32) não é palavra do
passado, é realidade! Que o medo não nos torne fundamentalistas (religiosos)
num permanente ‘contra-ataque’ e que a certeza da Paz, que nasce no coração dos
que se sabem filhos de Deus, nos leve a sermos mais ousados e criativos. Não é
ingenuidade. É uma opção. É Evangelho. É presença do Ressuscitado. A paz esteja
contigo, meu irmão de cada Domingo! BOA SEMANA!
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