“A
que(m) te ligas? De que(m) te desligas?”, duas perguntas essenciais para quem
quer fazer da peregrinação cotidiana um caminho de sabedoria, sentido e
significado. Não há caminho sem desprendimento, cada passo dado em frente deixa
para trás trilhos percorridos, memórias, encontros afetos...seguir em frente
não significa ‘apagar’ a história, só peregrina com leveza quem sabe levar no
coração uma memória agradecida, memória de quem se entrega ao futuro sabendo
que ele é apenas desconhecido, mas nunca incerto!
Se
há memórias que aprisionam, há outras que libertam. Ousar ‘ir além’ é medida do
Evangelho! Não podemos resignar-nos ou acomodar-nos, o Evangelho, palavra de
Libertação e Vida, convoca-nos para sermos instrumento de re-ligação (a
etimologia de religião!). Religar é mais do que unir...é saber esperar,
acolher, cuidar, integrar...religar é dizer ao outro: ‘aceito que as tuas
fragilidades não sejam o fim. Acredito em ti, e contigo, que é possível ir mais
além e mais profundamente’... é aprender a tecer com a filigrana da ternura e
da compaixão cada recomeço até que cada um ao nosso lado (e nós próprios
também!) sejamos inteiros...e por inteiro!
Habitados
pela Palavra que nos abre horizontes de novidade e vida plena, somos desafiados
pelo Mestre a re-ligar e a re-unir: “Em verdade vos digo: tudo o que ligardes
sobre a terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes sobre a terra será
também desligado no céu. Digo-vos ainda isto: se dois de vós se unirem sobre a
terra para pedir, seja o que for, consegui-lo-ão de meu Pai que está nos céus. Porque
onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (cf.
Mt 18, 15-20)
Sonhados
para a unidade e para a comunhão fraterna, precisamos hoje, mais do que nunca,
de re-descobrir e re-ligar o que é verdadeiramente humano...há laços de afeto e
ternura que não podem sucumbir diante da indiferença generalizada; há muito bem
sendo feito que tem rostos e nomes que precisam ser conhecidos; há tantos ‘milagres’
de perseverança e de paz diante de tanta violência e agressividade que deveríamos
compartilhar mais frequentemente...
Todo re-começo nasce da escuta...por isso: “Escuto, mas não sei se o
que oiço é silêncio ou Deus. Escuto sem saber se estou ouvindo o ressoar das
planícies do vazio ou a consciência atenta que nos confins do universo me
decifra e fita. Apenas sei que caminho como quem é olhado, amado e
conhecido. E, por isso, em cada gesto ponho solenidade e risco” (Sophia de Mello
Breyner Andresen).
Temos
uma semana pela frente. Ligar ou desligar? Eis a questão!
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