O
que tens feito com os teus talentos? É espontânea esta interrogação diante da
Palavra que nos interpela esta semana (Mt 25, 14-30). A questão torna-se ainda
mais incisiva se olharmos alguns dados que não podem ser para nós somente ‘estatísticas’:
Uma em cada dez pessoas, 767 milhões no mundo todo, sobrevivem com menos de US$
1,90 por dia... A região da África Subsaariana concentra mais pessoas em
situação de pobreza extrema do que todo o resto do mundo. São cerca de 388
milhões, o que corresponde a mais de 40% da população local...O que
tens feito com os teus talentos?
Com
inspirada ousadia, o Papa Francisco recordava neste Domingo que somos todos
‘mendigos do essencial’, “mendigos do amor de Deus, que nos dá o sentido da
vida e uma vida sem fim. Por isso, também hoje, estendemos a mão para Ele a fim
de receber os seus dons”...Mais uma vez ressoa a questão: O que
tens feito com os teus talentos?
É
desconcertante escutar o Evangelho e contemplar esta confiança de quem reparte
tudo o que é seu...e vai! Sim, só o Amor tem esta liberdade de se dar, de
confiar...e de se fazer Peregrino. Só um Amor assim é capaz de nos fazer sair
do medo e suscitar compromisso, fidelidade, entrega. Ele sabe que a
criatividade é o outro nome do Amor, por isso não hesita, nem por um segundo,
em colocar em nossas mãos frágeis e pequenas a imensidão do Seu ser, do Seu
amor, da Sua vida. É assim que, de talento em talento, Deus assume este
‘escândalo’ de ser o primeiro a confiar em nós...e o único que jamais desiste!
Eis, portanto, a questão: O que tens feito com os teus talentos?
A
pergunta que se repete, não é para nos determos no nosso ‘umbiguismo’ pensando
que resta-nos apenas a missão de ‘tarefeiros do Evangelho’, uma espécie de
repetidores sem alma de uma Palavra ‘neutralizada’ pelas nossas incapacidades
ou lamentações...aí de nós quando esse ‘veneno’ for o motor da nossa
existência! A repetição é para nos despertar e para nos estimular a
(re)aprender a olhar, saborear e realizar, de dentro para fora e do céu para a
terra, esta ousada missão que é irmã da confiança e filha do Amor, a missão de
sermos multiplicadores da vida, da dignidade, da ternura e da salvação de
Deus...Para isso o Evangelho apresenta-nos uma ‘escola’ onde podemos
diariamente reaprender a acolher e multiplicar os dons: os pobres!
Recordou-nos
o Papa Francisco: “No pobre, Jesus bate à porta do nosso coração e, sedento,
pede-nos amor...Lá, nos pobres, manifesta-se a presença de Jesus, que, sendo
rico, Se fez pobre. Por isso neles, na sua fragilidade, há uma «força
salvífica». E, se aos olhos do mundo têm pouco valor, são eles que nos abrem o
caminho para o Céu, são o nosso «passaporte para o paraíso». Para nós, é
um dever evangélico cuidar deles, que são a nossa verdadeira riqueza;
e fazê-lo não só dando pão, mas também repartindo com eles o pão da Palavra, do
qual são os destinatários mais naturais. Amar o pobre significa lutar contra
todas as pobrezas, espirituais e materiais. E isto far-nos-á bem: abeirar-nos
de quem é mais pobre do que nós, tocará a nossa vida. Lembrar-nos-á aquilo que
conta verdadeiramente: amar a Deus e ao próximo. Só isto dura para sempre, tudo
o resto passa; por isso, o que investimos em amor permanece, o resto
desaparece. Hoje podemos perguntar-nos: «Para mim, o que conta na vida? Onde
invisto?» Na riqueza que passa, da qual o mundo nunca se sacia, ou na riqueza
de Deus, que dá a vida eterna? Diante de nós, está esta escolha: viver para ter
na terra ou dar para ganhar o Céu. Com efeito, para o Céu, não vale o que
se tem, mas o que se dá...”.
Os
talentos multiplicam-se quando o nosso coração se volta para o pobre e, com
ele, reaprendemos a confiança, a alegria e o Amor que Salva... O que
tens feito com os teus talentos? BOA SEMANA!
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