Caro Nicodemos, faz algum tempo que
queria escrever-te.
Sei que de Deus sabes muitas coisas,
tens estudado a Torah e, nas tuas obras cotidianas, os ‘últimos’ têm encontrado
em ti um bálsamo para as suas dores, seja pelas tuas palavras doces e plenas de
sabedoria e sensibilidade, seja pela tua esmola generosa que sempre restitui
dignidade e abre portas de esperança. Se outros me falassem de ti diriam que és
um homem correto, honesto e caridoso. Nada mal, heim?!
Esta minha carta, caro Nicodemos, é
mais do que ‘uma carta’, na verdade ela é uma conversa muito simples que faz
tempo quero ter contigo. Sou, como tu, um peregrino. Amo a vida, as pessoas, a
natureza. Gosto do que é simples, não fico indiferente diante do sofrimento,
não me calo diante da injustiça e procuro viver cada dia plantando um pouco de
ternura através daquilo que chamo ‘os milagres cotidianos’. Seria bom que tudo
isso fosse diariamente a 100%, mas nunca te esqueças: sou um peregrino...sempre
precisado de perdão ( = Recomeço). Não te disse ainda, mas sou discípulo de
Jesus. Sim, esse que vens seguindo há já algum tempo em silêncio! E tem tanta
gente fazendo o mesmo...
Vou contar-te um segredo: durante
muito tempo houve uma pergunta que me tirou o sono: “Haverá um Amor capaz de
curar, iluminar e salvar?”, imagino que também essa pergunta te acompanhe! Não
te preocupes, não vou dar-te uma resposta, compreenderás mais tarde o motivo...
Sabes, Nicodemos, quando se busca o
que é (e)terno, não bastam as ‘respostas já prontas’. Diante das grandes
perguntas da vida há uma decisão importante: não se entregar à aparente
‘frustração’, isso já é um começo importante! Tem tanta gente que busca
respostas e, na primeira ‘não resposta’, baixa os olhos e, daí em diante, apenas vê o chão...
Soube por João que esta noite
vieste ao encontro de Jesus...sei como é entusiasmante esse caminho! Ir ao
encontro de Jesus e deixar simplesmente que Ele nos olhe. Afinal, só Ele sabe quem
nós somos! Descobrimos nessa hora o ‘essencial’ do Evangelho: “Deus amou tanto o mundo que entregou o seu
Filho Unigénito, para que todo o que acredita n’Ele não morra, mas
tenha a vida eterna. Porque Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar
o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele” (Jo 3, 16-17).
Caro Nicodemos, não sei o que farás
depois desse encontro. Quero apenas dizer-te que a comunidade dos discípulos de
Jesus, também conhecida como Igreja, estará de portas abertas para te acolher,
a ti e a todos os outros ‘Nicodemos’ que de noite, ou de dia, andam à procura
de uma luz e de um Amor capaz de curar, iluminar e salvar! Aqui as tuas dores
serão as nossas dores, as tuas alegrias as nossas alegrias, e as tuas dúvidas,
ao invés de serem um problema, serão mais um passo para juntos sedimentarmos o
caminho do nosso seguimento de Jesus... Sê bem-vindo, meu irmão!
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