Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara. Assim escreveu
Saramago, como que a provocar-nos com a pergunta que fica nas
entrelinhas: Afinal, O que vês? Em que(m) reparas? Num tempo
tão cheio de ritmos frenéticos, de indiferença e de ‘liturgias da banalidade',
abre-se diante de nós um pórtico que interpela o nosso coração e a nossa
inteligência, VEM AÍ A PÁSCOA!
Fomos chamados e convocados há
40 dias para um caminho de renovação interior. Logo no primeiro
passo, que é sempre iniciativa d’Ele, começámos com a garantia de que Deus é o primeiro a acreditar em nós e o
único que não desiste de nós. Ali mesmo Ele deixou claras as suas intenções:
«Estabelecerei a minha aliança convosco, com a vossa descendência e com todos
os seres vivos que vos acompanham ...» (Gen 9, 8-15 ).
Chegámos agora diante da
Páscoa, estamos no começo da Semana Maior (ela não vai ter mais dias, mas é a
grande semana que nos leva a mergulhar nas
fontes da Salvação!). O que vimos (e
ouvimos) durante o grande caminho dos 40 dias? Onde nos detivemos? Com que
determinação deixámos Deus tocar nossas feridas e curar nossos lamentos? Onde o sussurro da Páscoa foi mais forte
que o nosso medo e o nosso pecado?
Deus chamou-nos para um caminho Batismal-Pascal e, como Pai, dispôs-se a
moldar o nosso coração endurecido pelo medo e pela vergonha do pecado. De
aliança em aliança foi-nos narrando e oferecendo ternura e recomeço...
Entremos então nesta ‘Semana da Ternura e do Recomeço’
deixando-nos guiar pelos olhos do centurião. Aquele homem, não sabemos se era o
mesmo de Cafarnaum (Lc 7), era para os seus contemporâneos um homem importante,
tinha poder e podia exigir obediência...No entanto, encontramo-lo ali, diante do calvário,
mudo! Estava, num frente a frente com Jesus! Não sabemos o que o silêncio
daquele espetáculo cruel lhe perguntava interiormente...Sabemos apenas que do
seu olhar contemplativo e, do seu coração e inteligência, brotou a ‘bem-aventurança’
do Calvário: “Na verdade, Este homem era o Filho de Deus!” (Mc 14, 1- 15, 47)...
Os olhos do Centurião são janelas
pelas quais a Ternura de Deus nos interpela a dar passos concretos rumo à
Páscoa. O que vamos viver e celebrar, o
oceano em que vamos mergulhar nos próximos dias, não é uma liturgia da banalidade
ou do superficial, muito menos um rito para aplacar a ira do deus-sádico, menos
ainda um tempo para ‘lágrimas de crocodilo’...
A PÁSCOA VEM AO NOSSO ENCONTRO,
pede-nos imersão, do coração e da vida, no coração de Deus. No Calvário é-nos oferecido
sentido, sabor e significado para a nossa vulnerabilidade quotidiana. Da Cruz
do Crucificado-Ressuscitado, Deus que é Pai de Misericórdia, quer-nos fazer beber
das fontes da Salvação para que possamos caminhar com um Coração-Pascal.
Talvez seja oportuno tatuarmos por dentro dos nossos corações esta certeza de Isaac
de Nínive: “Deus
só pode dar-nos o seu amor!”. Então, quando assim fizermos, abriremos nossos
olhos e, como o centurião, também nós reconheceremos o nosso Salvador. O Salvador
do Mundo. Por todos. Por Amor. Para Sempre! BOM CAMINHO. BOA SEMANA...SANTA!
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