A vida não é indolência, é
encontro, é decisão, é compromisso! É verdade que “há
quem gaste a vida toda a organizar a vida”, dizia Séneca, e nenhum de nós está
imune a esta tentação de querer uma vida ‘perfeita’! Mas, ‘a vida perfeita’ não
existe. O que existe é a vida feliz! Uma vida feita com a ousadia de quem não
tem medo das perguntas, preenchida com uma coragem que nasce de um coração
simples e vivida na alegria de um coração comprometido com o quotidiano. Talvez
seja bom recordar que um coração que não se habitua a escolher vive sempre na
indiferença, torna-se um coração indolente, à procura de tudo…mas sem querer
nada! E com quanta indolência vivemos tantas vezes o Evangelho.
Neste domingo é-nos
colocado diante da inteligência e do coração esta ‘atracção de Jesus ao
deserto’ (Mt
4, 1-11).
Mais do que um lugar físico, este ‘deserto’ é uma metáfora para nos revelar o
que tantas vezes anda dentro de nós. Tal como nas tentações feitas a Jesus,
também a nós se apresenta este ‘convite’ diabólico (= tudo o que divide) a
fixarmo-nos só no que se vê (pão), a desfigurar a nossa identidade fundamental
(‘se és Filho de Deus…’) e, por fim, o convite a ‘envenenar’ o nosso
discernimento (‘Tudo isto Te darei, se, prostrado, me adorares’). É neste duplo
movimento de ‘sedução’ e ‘aparência de bem’ que ganham espaço em nós as
tentações. E de que tentações falamos? É muito frequente ouvir(-mos) as pessoas
a ‘etiquetarem’ as tentações (as suas e as dos outros!) apenas na questão ‘afetiva-genital’;
mas, não te escandalizes se te disser que acho que essas nem são as mais
graves!
Explico-me: creio que são
muito mais corrosivas e portanto, mais cheias de pecado, as tentações que
trazemos caladas (e reprimidas!) dentro de nós: os ódios mesquinhos, os desejos
de vingança, as etiquetas que vamos colocando nos outros, a altivez com que nos
achamos melhores (e mais sábios!), o espaço sempre ampliado que vamos dando à
injustiça nas nossas relações pessoais quotidianas, as nossas ‘palavras apressadas’
para evitar que o silêncio nos confronte, o nosso ‘olhar para o lado’ quando
passamos junto de um sem-abrigo ou de uma prostituta na rua, o nosso silêncio
diante da violência para com os idosos,uma vida espiritual feita de 'mínimos', …e tantas outras tentações que,
disfarçadamente, contornamos e seguimos em frente, como se a vida fosse apenas
‘o dia que se segue’. É verdade que não precisamos de viver amarrados ao
passado! Nenhum de nós é um erro, embora possamos cometer alguns erros. Diante
da tentação o que nos é pedido é que não abdiquemos da CONFIANÇA, daquela
confiança que gera em nós a certeza de sermos amados ‘para além dos limites’,
perdoados sem ser julgados e salvos por um Amor (e)terno, nós que vivemos
marcados pela vulnerabilidade.
Recorda-nos o Papa Francisco, na mensagem para esta
Quaresma, que uma só tentação (= miséria) nos devia preocupar: «a de não viver
como filhos de Deus e irmãos de Cristo». Não fomos sonhados para ser
‘derrotados’ pela tentação, dado que desde sempre fomos abraçados pela
Salvação. O Evangelho convida-nos,
neste Domingo, a atravessar com Cristo os desertos que nos habitam, a passar o
‘vale da morte’ e a fazer brotar, a partir de dentro, uma primavera cheia do
‘perfume’ da manhã de Páscoa.
«Temer ou Amar?»
Eis a provocação que nos faz esta semana o Evangelho!
Em lugar de ficar bloqueado (e amedrontado) com as tentações,
‘TENT-AÇÕES’…concretas, bem discernidas, cheias de Evangelho. Que semeiem
Esperança, Perdão, Recomeço. BOA SEMANA!
1 comentário:
Bem-haja! Cristo é tão Maravilhoso :-)
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